A vida é o mar onde todos os desejos se encontram e se afogam

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sexta-feira, 24 de julho de 2009

O amor e o hóspede



O amor é como um hóspede mal educado que chega sem ser convidado. Quando chega quer ser bem servido, incomoda e nem percebe a cara feia do hospedeiro, mas no outro dia já começa a dar alegrias, ainda que continue aborrecendo. De repente o hospedeiro começa se sentir perturbado com os brilhos que os olhos alcançam e também com repentinas tristezas e iras ocorridas quando o tal do hóspede não age conforme as regras da casa. Ele é tão teimoso que não sai quando o hospedeiro já farto manda sair, já não tolerando mais suas manias nem considerando tanto aqueles êxtases que foram diminuindo.
Hospede mal educado, egoísta, tem suas próprias vontades, a gente berra, grita, chora, até fica calmo e tenta fingir que ele não está. Resolvemos não fazer suas vontades pra ver se ele se toca e vai embora, dá até semancol. Chega ao ponto de se chamar de otário e idiota por ter aberto as portas, mesmo sabendo que não seria possível no instante que ele apareceu adivinhar o estrago que faria. E que hospede bagunceiro, troca os móveis de lugar, uns sujam muito, outros limpam, mas todos mechem nas coisas e tudo fica diferente, já nem reconhecemos mais a nossa casa. Mas ele não sai mesmo, retado, teimoso, fica dizendo que ele veio na hora certa e o momento que deve partir é ele quem dita.
Então depois de tanto suar e de tanto desistir, sem nem perceber, o hospede, sai devagarzinho... Pela janela?Pela porta??Não importa, a questão é que é tão cauteloso que nem percebemos, talvez por já ter-nos acostumado, só que depois de um tempo de paz em que ficamos aliviados e chegamos até a rir de alegria por ter se livrado daquele peso, a gente começa a sentir falta da presença daquele intruso, da bagunça que ele fazia, de alguns arranjos, das mudanças que nos causavam. Começamos a sentir falta das emoções incomodas e boas que nos causavam, e como todo hóspede quando vai embora, a gente fica desejando que ele volte, mas a verdade é que quando ele ameaça voltar muita gente tranca a porta, porque vê o risco de passar por tudo de novo. Mas não adianta, ah não adianta mesmo... Esse hospede é muito mal educado, nem porta fechada com tranca e ferro impede esse intruso, ele se camufla, pode ser de vento e passar por debaixo da porta, pode ser de outro sentimento, pra que você o receba, ou então ele arromba a porta e começa a mandar no pedaço, você fica atordoado e reclama mais uma vez da impotência de ordená-lo sair ou entrar.Porém se soubermos aquietar o coração a gente começa a aprender muito com ele.
O dia que o hospedeiro depois de ter passado por tanto sufoco, por tantas idas e vindas desse hóspede maluco que nunca é o mesmo, resolver compreende-lo e observá-lo aprendendo com ele, se tornarão grandes amigos. Junto, serão fortes, intensos. Então ele fica pra sempre?Isso eu não sei, a verdade é que o amor nunca deixou de ser um hóspede independente. Fica se quiser?Talvez não possa. Afinal a linha entre poder e querer é tão longa que desaparece no infinito. E o bom dessa estória é que o amor fica sendo um hóspede que além de indomável é misterioso.

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