A vida é o mar onde todos os desejos se encontram e se afogam

A vida é o mar onde todos os desejos se encontram e se afogam

sábado, 25 de julho de 2009

Abattu


Mes larmes vont a la chute du l’espoire qui seul a fait mon âme brûler sans savoir que pour mourrire il faut aimer.

Minhas lágrimas vão na derrocada da esperança qui só fez minh'alma queimar sem saber que para morrer é preciso amar.

Traçados



Deves saber quando é hora de parar de seguir em vão em um caminho vazio
Abrir as mãos para que o perdido voe livre envolvido apenas no amor de uma olhada

Deves ser fênix, caminhar pela areia seca sentindo-a molhada pelas lembranças caladas
Curando a ferida e permitindo amar ainda, mesmo quando não se pode mais
Mesmo quando não se pede, nem se precisa, é preciso continuar amando.

Desistir de sonhar, mas levar a liberdade de um amor que independe condição e paixão
Quem já se foi e já fizemos o que devemos, ainda amar as imagens sonhadas, as palavras caladas, a vida inteira

Perdido?Jamais, apenas seguindo horizonte pertencido ao milagre dado, ser feliz em outros abraços
Permitir o vôo bem dado, voar também embora seja outro céu, outra via
Ainda que a esperança do encontro nos decepcione
Não importa se não chegue o brilho, amá-lo, esta é a maravilha

Sentir que o outro ainda está tão perto
E sonhar um pouco mais em ser livre quando se ama preso e aprender um pouco mais
Seguir até o eterno nesse gracejo que é a verdade revelada nos trágicos finais .

Orfeu despedaçado



As minhas palavras já não têm poder. Não serão mais capazes de te comover. Não, meu lírio não destruirá as barreiras do orgulho, da frieza, da decisão, seja lá o que for é mais poderoso.
Impotente dentro de minhas utopias vazias, minhas mãos ensangüentadas sem esperança de perdão. Não adiantará ser despedaçado, meu corpo de ouro é cinza podre lavada pela água da chuva, lama estragada, não fará brotar grandes riquezas. Talvez minhas mãos, minha oração, minha energia, minha vida pudessem ser doadas em troca da devolução do maior presente perdido, agora jazendo nos confins da terra, escuridão. Mas a mim só cabe as palavras, eu só as tenho e ela só possuem a mim. As usarei apenas pra cantar minha dor, a impotência da mudança desejada como se ainda que encantado por ela eu pudesse reter o presente que guardas em teu coração.



Mas quem dirá que como Orfeu eu também não terei o impulso de contemplar o meu amor. Pedra apenas pedra, pelo menos ele se aproximou, chegou a ter a esperança do retorno e a vibração do fulgor, a mim vazias perspectivas, a mim a fragilidade da minha lira, eu só tenho as palavras e elas já não causam mais alegrias nem dor.

Ironias



É irônico como causamos certas aflições e acabamos aceitando-a como destino, ou acaso, as pessoas te menosprezam por isso, é porque elas não sabem a dor que é carregar um erro eternamente. É mais irônico quando o reconhecemos e temos a humildade de correr atrás para corrigi-lo e descobrir que é tarde demais. Não há culpados, há quem diga, o amor é assim mesmo, vive passando pela gente, não devemos crucificar por tê-lo deixado passar, a questão é que ele passa quando quer, mas às vezes nós ajudamos dando o impulso que precisava.
Acreditar em amor que fica por esforço e dedicação é ironia, acreditar que só sai se permitirmos é consolo pra quem já perdeu um grande amor. Entender porque umas pessoas esquecem e outras guardam é mistério, entender porque a colheita seca e outra brotam mais ainda. É preciso aprender, apenas olhar com mais cuidado, sabendo que não serás capaz de ultrapassar a superfície do entendimento. Se permita subir mais um degrau, pensar um pouco mais no funcionamento das coisas, como se isso te protegesse do próximo erro.



O futuro da vida é feito de três pontinhos... Aqueles que imaginamos tantas letras que nunca serão as que preencherão o espaço vazio. A cada costura feita na ferida profunda, ir com a paciência do perdão e sentir que aprendeu alguma lição, não aquela que nos leva ao túmulo da alma, mas a que contenha alguma graça. É pra brilhar que nascemos e porque cega-nos a escuridão?É que nos esquecemos de abrir os olhos.
Um amor partido é uma fórmula que te guia ao conhecimento de si. Aonde te perdestes alma inquieta?No vazio das suas metas?No cheio de teus confusos pensamentos?Recorda-te que teu amigo é teu maior inimigo e que teu maior inimigo és teu maior amigo. Teu melhor amigo és a ti mesmo. Não foi teu amor que se foi, mas a ti, se foram em um só, sempre serão, partiu...
Não, apenas se repartiu e deves aprender a multiplicá-lo, porque as partidas têm sido contínuas e é preciso levantar as certezas de uma nova manhã, com cheiro de rosa molhada e tapete esguio, tendo a coragem de sempre caminhar pelos verdes sombrios de um sentimento incompreendido.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O amor e o hóspede



O amor é como um hóspede mal educado que chega sem ser convidado. Quando chega quer ser bem servido, incomoda e nem percebe a cara feia do hospedeiro, mas no outro dia já começa a dar alegrias, ainda que continue aborrecendo. De repente o hospedeiro começa se sentir perturbado com os brilhos que os olhos alcançam e também com repentinas tristezas e iras ocorridas quando o tal do hóspede não age conforme as regras da casa. Ele é tão teimoso que não sai quando o hospedeiro já farto manda sair, já não tolerando mais suas manias nem considerando tanto aqueles êxtases que foram diminuindo.
Hospede mal educado, egoísta, tem suas próprias vontades, a gente berra, grita, chora, até fica calmo e tenta fingir que ele não está. Resolvemos não fazer suas vontades pra ver se ele se toca e vai embora, dá até semancol. Chega ao ponto de se chamar de otário e idiota por ter aberto as portas, mesmo sabendo que não seria possível no instante que ele apareceu adivinhar o estrago que faria. E que hospede bagunceiro, troca os móveis de lugar, uns sujam muito, outros limpam, mas todos mechem nas coisas e tudo fica diferente, já nem reconhecemos mais a nossa casa. Mas ele não sai mesmo, retado, teimoso, fica dizendo que ele veio na hora certa e o momento que deve partir é ele quem dita.
Então depois de tanto suar e de tanto desistir, sem nem perceber, o hospede, sai devagarzinho... Pela janela?Pela porta??Não importa, a questão é que é tão cauteloso que nem percebemos, talvez por já ter-nos acostumado, só que depois de um tempo de paz em que ficamos aliviados e chegamos até a rir de alegria por ter se livrado daquele peso, a gente começa a sentir falta da presença daquele intruso, da bagunça que ele fazia, de alguns arranjos, das mudanças que nos causavam. Começamos a sentir falta das emoções incomodas e boas que nos causavam, e como todo hóspede quando vai embora, a gente fica desejando que ele volte, mas a verdade é que quando ele ameaça voltar muita gente tranca a porta, porque vê o risco de passar por tudo de novo. Mas não adianta, ah não adianta mesmo... Esse hospede é muito mal educado, nem porta fechada com tranca e ferro impede esse intruso, ele se camufla, pode ser de vento e passar por debaixo da porta, pode ser de outro sentimento, pra que você o receba, ou então ele arromba a porta e começa a mandar no pedaço, você fica atordoado e reclama mais uma vez da impotência de ordená-lo sair ou entrar.Porém se soubermos aquietar o coração a gente começa a aprender muito com ele.
O dia que o hospedeiro depois de ter passado por tanto sufoco, por tantas idas e vindas desse hóspede maluco que nunca é o mesmo, resolver compreende-lo e observá-lo aprendendo com ele, se tornarão grandes amigos. Junto, serão fortes, intensos. Então ele fica pra sempre?Isso eu não sei, a verdade é que o amor nunca deixou de ser um hóspede independente. Fica se quiser?Talvez não possa. Afinal a linha entre poder e querer é tão longa que desaparece no infinito. E o bom dessa estória é que o amor fica sendo um hóspede que além de indomável é misterioso.

Amar


Amar é morrer sem saber porque.
Amar é viver na ausência da vida
E se perder na escuridão do dia.

Amar é mirar a brancura de uma alma esverdeada
Seguir vozes no mundo sem palavras
E andar com as pernas tortas quebradas
Com o êxtase de uma alma envergonhada

Amar não exige medida, lição, poesia
Se alimenta de vazios imensos
E de grandes tumultos invisíveis
Leves galopadas da alma
E grandes gotas de sangue desgarradas
Feridas já largas que o tempo não encontrou cura