A vida é o mar onde todos os desejos se encontram e se afogam

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sábado, 25 de julho de 2009

Orfeu despedaçado



As minhas palavras já não têm poder. Não serão mais capazes de te comover. Não, meu lírio não destruirá as barreiras do orgulho, da frieza, da decisão, seja lá o que for é mais poderoso.
Impotente dentro de minhas utopias vazias, minhas mãos ensangüentadas sem esperança de perdão. Não adiantará ser despedaçado, meu corpo de ouro é cinza podre lavada pela água da chuva, lama estragada, não fará brotar grandes riquezas. Talvez minhas mãos, minha oração, minha energia, minha vida pudessem ser doadas em troca da devolução do maior presente perdido, agora jazendo nos confins da terra, escuridão. Mas a mim só cabe as palavras, eu só as tenho e ela só possuem a mim. As usarei apenas pra cantar minha dor, a impotência da mudança desejada como se ainda que encantado por ela eu pudesse reter o presente que guardas em teu coração.



Mas quem dirá que como Orfeu eu também não terei o impulso de contemplar o meu amor. Pedra apenas pedra, pelo menos ele se aproximou, chegou a ter a esperança do retorno e a vibração do fulgor, a mim vazias perspectivas, a mim a fragilidade da minha lira, eu só tenho as palavras e elas já não causam mais alegrias nem dor.

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