A vida é o mar onde todos os desejos se encontram e se afogam

A vida é o mar onde todos os desejos se encontram e se afogam

terça-feira, 16 de setembro de 2014

LUTO





Come up to meet you, tell you I'm sorry.
You don't know how lovely you are
I had to find you, tell you I need you
And tell you I set you apart
Tell me your secrets, and ask me your questions
Oh let's go back to the start

(All angels - The scientist)



Antes o que encara a morte e vive o luto, que o que vive de esperanças e perde o tempo da terra vivendo do morto, do passado,  violando o sepulcro daquele que pede descanso. Não o culpo, a dor é tanto quanto insuportável. A bendita fuga permite que o morto continue vivo, a tal esperança de quem não viu o corpo, não cultuou o morto. Àquela que se for chamada, vem, com toda sua potencia para atormentar os homens, àquela que foi deixada ao homem dentro da caixa de Pandora... Antes fosse também. Não só de espera vive o homem, é preciso viver e para isso é preciso também ter passado pela morte. Não há saída, quando se perde e se admite é preciso morrer junto para que possa haver uma nossa possibilidade de vida futura. Antes aquele que parte do que àquele que não vivifica o presente da vida. Tudo se tem tempo certo, maldito é o que antecede as coisas. Vive em suas próprias sombras.

E quando o amor se vai antes que a pessoa amada? Quem podes julgar ser o pior. O que se vai enquanto ainda existe amor ou quando este ultimo faz a passagem e deixa seus moradores na rua? Quem pode medir a dor? Não seria proporcional a quem sente e como sente? Tal, qual, acho ainda pior, aquele a quem o amor deixou, pediu time, parou e este o forçou a continuar, como esperança no coração de quem amou. Tão pior é quem ama o coração de quem já deixou de amar ou quem nunca amou e quando foi hora de deixar que o amor do peito partisse, segurou-o, morto, junto com o amado morto, vivendo uma vida de morto, infringindo a vontade do ultimo e dessacralizando a vida.

Condenado é aquele que manteve o amor, um anjo morto, nas costas à percorrer seus caminhos sem mais brilho, o corpo putrefazendo sob a própria pele no desejo de incorporar o que não se tem. Apego? Talvez. Ego? Pode ser. O ser, tão humano, não suporta perder, não se admite tanta fraqueza, não admite e não vê de que é apenas passagem e de que nada se tem, mas tudo se empresta de Deus. Tal qual a própria vida a quem não dá o devido valor. Quem pode viver o presente e sentir a dádiva da vida se está preso ao passado? Seja ele prazeroso ou doloroso, não existe mais, mas continua a existir dentro, preso, pela vontade destemida de esperar até quando não se possa mais. 

Apego... quando o que se tem é tão vivificante que não se tem mais prazer em viver sem. Teimosia... quando a vida diz basta, desvia, refaz seu caminho, e se quer manter-se estático... a relutância em morrer, ainda que velho demais esteja e é preciso renascer. Mas ainda que ache escolher, o tempo, senhor de todos os destinos, o livre arbítrio teu fiel amigo, caminham juntos, e no momento certo para o ser que caminha na dureza da busca pelo morto, chega. Caminha sem saber, intuição, levado, chega até o cemitério de sua alma e encontra o morto. O amor morto, o amado morto, e percebe-se... há sim, há hora para tudo. Não à toa a demora, era preciso fortalecer os músculos para a batalha. O encontro com a parte mais obscura de si, sofrida, temida, escondida num cantinho do coração... segurando doenças e adoecendo junto. Percebe-se que se viveu de passado, de que tudo está morto, de que só lhe restam lembranças, de que a vida segue enfrente.




Sob o olhar, jorro de lágrimas, aquelas presas por tanto tempo na esperança, esperando que um dia não caísse, de que um dia o sorriso lhe abrisse, como se fosse ele senhor do seu próprio destino, como se fosse mais que Deus, rompendo o livre arbítrio e controlando tudo. Ilusão de si mesmo. Nem Deus, energia criadora de todo universo, é capaz de controlar tudo. Pois, energia não conhece controle apenas flui. 

"Say something I'm giving up on you"

Quantas vezes fugimos quando deveríamos ter enfrentado? Coragem de enxergar a verdade e sermos francos conosco. Saber o que se sente, abraçar a própria fraqueza e imperfeição. Dizer o que se é preciso, para si mesmo, para o outro, quebrar o Ego, o orgulho, a ilusão de fortaleza... é na fraqueza que nos sentimos fortes. Reconhecer os próprios limites, a pequenez, deixar o Ego e o desejo de necessidade de ser reconhecido, não é preciso, somos simples demais para desejar reconhecimento maior. Somos privilegiados demais pelo presente da vida para desejarmos mais.

As vezes na vida, muitas vezes, precisamos virar páginas e, quando preciso, terminar o livro. Existem livros que quando nos apaixonamos, nos apegamos, precisamos nos libertarmos deles quando chega-se ao fim. É preciso doar, vender, jogar fora e não guardar para posteriormente ser lido. Mas ter a coragem de ficar apenas com a lembrança e seguir para o próximo, mesmo que nunca encontre um que ame mais, é preciso deixá-lo ir embora...

You are the one, that i love....  And I'm saying goodbye


 E desistir dele quando ele mesmo solicita. É preciso respeitar o querer do outro.

I'll be the one, if you want me to

É na conversa consigo e com o outro, é no escutar a si mesmo e o outro, é nessa inter-relação que terminamos o que um dia começou(amos), que fechamos livros de nossa autobiografia, que enterramos e fazemos o luto das coisas já mortas que carregamos por tanto tempo, nos autoflagelando na não permissão de se viver a vida presente. Ser coragem de entender que nada é como se quer, como se espera, como o ego deseja. E que a graça da vitória está no caminho até alcança-la. Assim como a graça e a beleza da morte é a vida que se viveu, o percurso que se traçou, as lágrimas, as dores, as mortes, os sorrisos, as alegrias e as renascidas que se passou no livro da vida. Precisamos estar prontos para morrer consecutivamente em vida, para que quando realmente formos, nos desapeguemos do passado, e façamos a passagem, voando livre, nos libertando.

Say something....

Muitas vezes esperamos respostas para nossas perguntas, esperamos, na esperança, a palavra do outro para que não somente realizemos a nossa ânsia e êxtase, mas sobretudo para que nos libertemos. 
A morte, é a mais forte purificação da vida, somente através dela é possível viver novamente, a vida depende da morte para renascer, para ser, para existir e ela regula toda a juventude e brilho do presente.

A vida ensina o valor da morte, daqueles que amamos, de nós mesmos e dos sentimentos que já velhos precisam rejuvenescer. Nosso caminho é em direção a vida... portanto é preciso morrer... sempre que chega a hora. Nascemos para voar e para desenjaular os que prendemos, nascemos como cisnes que vivem sobre as águas das emoções, seguras, mas estão criando forças para o voo. O céu é nosso lugar o voo é a nossa mais verdadeira viagem, em direção a paz. 




Desista do outro, desista de si mesmo e se permite ser um novo alguém que não desiste de ser feliz e de fazer o outro voar livre em direção à sua própria existência.